Tribo Pirahã: a cultura que está alterando a teoria da gramática universal.

mar 6, 2016 by

Documentário mostrando o linguista Daniel Everett e sua relação com a tribo Pirahã, o estudo da sua língua, que pode mudar a história da linguagem humana, além de sua profunda mudança de um fervoroso missionário a um cientista ateu. O nome do documentário é ”The Amazon Code” The Grammar of Happiness ( O código do Amazonas: a gramática da felicidade)

O idioma pirahã, falado por cerca de 400 indígenas que vivem às margens do Rio Maici, no sul do Amazonas, talvez fosse apenas mais uma das dezenas de línguas brasileiras ameaçadas pela extinção não fosse pelo estudo de um linguista americano. As pesquisas conduzidas por Daniel Everett, entre o final da década de 1970 e o início deste século, levaram-no a questionar um conceito consagrado no mundo da linguística: o da gramática universal, do também norte-americano Noam Chomsky.

Everett chegou aos pirahã como missionário cristão do Instituto de Linguística Summer (SIL). Seu objetivo era decifrar a língua desse povo que, até então, tinha pouco contato com os homens brancos, para convertê-los ao cristianismo. A convivência com esses indígenas levou Everett a questionar sua fé, abandonar o trabalho de missionário e virar ateu.

Os resultados da pesquisa de Everett, hoje reitor do Centro de Artes e Ciências da Universidade de Bentley, em Massachusetts (EUA), ganharam o mundo há cerca de dez anos, quando ele usou a língua pirahã para questionar os preceitos da gramática universal, de que as estruturas básicas da linguagem nascem com o ser humano sem ser aprendidas.

A teoria de Everett é que a gramática pirahã não contém um conceito básico da gramática universal: a possibilidade de recursividade, ou seja, inserir frases dentro de outras frases indefinidamente como no exemplo “João disse que Maria disse que Pedro disse que Joana comprou uma casa”.

“Quando você escuta um discurso ou uma história pirahã, você não encontra recursividade em orações individuais. Eles até têm recursividade cognitiva, mas eles não tem recursividade na sintaxe”, explica.

Na hipótese de Everett, a gramática não é algo biológico, mas uma ferramenta aprendida culturalmente, com base nas necessidades de cada sociedade. “A linguagem é um processo de resolver o problema da comunicação e cada cultura tem respostas diferentes. Não vejo nenhuma necessidade de propor uma gramática inata”, diz. A teoria de Everett encontrou várias críticas no ambiente acadêmico, inclusive do próprio Noam Chomsky.

Mas as singularidades do pirahã não param por aí. No idioma, não há palavras para cores ou números. Os objetos são contados em palavras como poucos ou muitos. “Os pirahãs não têm números simplesmente pela sua falta de utilidade nas aldeias. Eles não precisam dos números. Pessoas dizem que números são inatos, mas eles mostram que o ser humano não é tão previsível”, conta Everett.

Os pirahãs também são capazes de formar frases inteiras apenas com assobios, um recurso usado durante as caçadas, para evitar afugentar os animais. “Os assobios fazem parte da língua pirahã. É como se eles estivessem mudando de canal. Quando eles assobiam, é simplesmente os tons, alongamento de sílabas e acentuações que você encontraria na fala comum. Não é uma língua diferente, é apenas uma parte especial da língua”, conta.

Segundo Everett, independentemente da polêmica envolvendo seu questionamento à teoria de Chomsky, aprender a língua pirahã e conviver com aquele povo foi uma experiência que mudou sua vida. “Eu aprendi muito com os pirahãs, através das palavras deles, a apreciar o mundo em que eu vivo”, diz.

Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br

Cultura

Pirahã

Os Pirahã se preocupam apenas com questões que são da experiência pessoal direta e, portanto, não há nenhuma história para além do que há memória. O sistema de parentesco é simples, inclui baíxi (pai, avô, ou mais velho), xahaigí (irmão, masculino ou feminino), hoagí ou hoísai (filho), kai (filha) e piihí (enteado, filho favorito, crianças com pelo menos um dos pais falecidos, e muito mais).

Daniel Everett afirma que um dos valores mais fortes dos Pirahã é não fazer coerção; você simplesmente não diz às outras pessoas o que fazer. Não parece haver nenhuma hierarquia social.; os Pirahã não têm líderes formais. Seu sistema social pode, assim, ser rotulado como o comunismo primitivo, em comum com muitas outras bandos de caçadores-coletores no mundo.

Embora os Pirahã usem canoas todos os dias para a pesca e para a travessia do rio que vivem ao lado, quando suas canoas desgastam, eles simplesmente usam pedaços de casca de canoas como temporários. Everett trouxe um construtor mestre que ensinou e supervisionou os Pirahã para fazer uma canoa, para que eles pudessem fazer as suas próprias. Mas quando eles precisavam de outra canoa, eles disseram que “Pirahã não fazem canoas” e disse a Everett que ele devia comprá-los uma canoa. Os Pirahã confiavam no trabalho das canoas das comunidades vizinhas, e usar essas canoas para si.

Constroem cabanas simples onde eles guardam alguns potes, panelas, facas e facões. Eles fazem apenas raspagem de implementos (para fazer pontas de flechas), vagamente tecem sacos de folha de palmeira, arcos e flechas. Eles tiram cochilos de 15 minutos até, no máximo, duas horas ao longo do dia e da noite, e raramente dormem à noite.

Eles muitas vezes passam fome, não por falta de alimento, mas a partir de um desejo de ser tigisái (duro). Eles não armazenam alimentos em qualquer quantidade, mas geralmente comem quando eles chegam. Têm ignorado as lições em preservar carnes por salga ou fumaça. Eles cultivam plantas de mandioca que crescem a partir de sementes “cuspidas” e  fazem apenas um pouco de farinha de mandioca a cada vez.

Eles trocam nozes do Brasil e sexo por produtos de consumo ou ferramentas, por exemplo, facões, pólvora, leite em pó, açúcar, uísque. A castidade não é um valor cultural. Eles trocam castanha, madeira e sorva (seiva de borracha utilizados na goma de mascar) por lata de  soda – que são usados para colares. Os homens usam camisas e calções conseguidas a partir de comerciantes.; mulheres costuram seus próprios vestidos de algodão puro.

Sua decoração é principalmente colares, utilizados principalmente para afastar os espíritos. O conceito de desenho é estranho para eles e quando solicitados a desenhar uma pessoa, animal, árvore, ou rio, o resultado é linhas simples. No entanto, ao ver uma novidade, tal como um avião, uma criança pode fazer um modelo da mesma, que pode ser rapidamente eliminado.

De acordo com Everett, os Pirahã não têm noção de um espírito supremo ou deus, e eles perderam o interesse em Jesus quando descobriram que Everett nunca o tinha visto. Eles exigem a evidência com base na experiência pessoal para cada afirmação proferida. No entanto, eles acreditam em espíritos que, por vezes, pode assumir a forma das coisas no meio ambiente. Esses espíritos podem ser jaguares, árvores ou outros, coisas concretas e visíveis, incluindo pessoas. Everett relatou um incidente em que os Pirahã disse que “Xigagaí, um dos seres que vivem acima das nuvens, estava de pé em uma praia gritando para nós, nos dizendo que ele iria nos matar se fossemos para a selva. “Everett e sua filha não conseguia ver nada e ainda assim os Pirahã insistiram que Xigagaí estava na praia.

Adoção da cultura modpiraraerna

O documentário acima é de 2012 e foi ao ar no Canal Smithsonian, nele sabemos que uma escola foi abera  para a comunidade Pirahã onde aprendem Português e Matemática. Como consequência, observações envolvendo conceitos como a noção de quantidade (que tem um tratamento singular em língua pirahãs), tornou-se impossível, por causa da influência dos novos conhecimentos sobre os resultados. De acordo com a FUNAI a escola é da responsabilidade do Ministério da Educação do Brasil. Além de uma escola formal a ser introduzida à cultura, o documentário também informou que o governo brasileiro instalou uma moderna clínica médica, electricidade e televisão na área remota.

Fonte: https://en.wikipedia.org

Tradução feita por mim, Karina Bezerra.