Arte rupestre é mais antiga do que se pensava
O arqueólogo português João Zilhão, um dos maiores especialistas mundiais no tema, participa num estudo, que faz hoje a capa da «Science», onde se apresentam evidências de que as mais antigas pinturas rupestres da Europa têm mais de 40 mil anos. Sugere-se, assim, que poderão ter sido realizadas por neandertais.
O que o novo estudo vem sugerir é que poderão ter sido os neandertais os primeiros a fazer arte rupestre. Através de um método de datação normalmente utilizada pelas ciências naturais, os investigadores analisaram 50 pinturas em 11 cavernas no norte de Espanha.
Entre estas, encontram-se as gruta de Altamira, de El Catillo e Tito Bustillo (Património Mundial da UNESCO). O estudo concluiu que as pinturas têm mais de 40 mil anos, ou seja, são entre 5 e 10 mil anos mais antigas do que as da gruta de Chauvet, em França, que até agora eram consideradas as primeiras.
A técnica de datação – de séries de urânio em desiquilíbrio – utilizada pela equipa liderada por Alistair Pike, da Universidade de Bristol, é, neste caso, mais eficaz do que a datação por carbono 14 (que só mede pigmentos orgânicos).
Esta mede a desintegração radioactiva do urânio contido nas estalactites de calcite (carbonato de cálcio) que se foram depositando em cima das pinturas ao longo de milénios. Através dela, obtém-se uma idade mínima.
As imagens analisadas incluem discos vermelhos e contornos de mãos. Uma das figuras de El Castillo data de, pelo menos, 40 800 anos, o que faz dela a figura rupestre mais antiga da Europa.
No comunicado divulgado, Alistair Pike explica que “o ser humano moderno chegou ao norte de Espanha há 41 500 anos. Antes dele, só lá viviam os neandertais”. Os resultados sugerem várias hipóteses: ou a pintura já fazia parte da actividade cultural dos sapiens, ou estes desenvolveram-na num curto espaço de tempo, talvez como resposta à competição com os neandertais ou, talvez, “esta seja arte Neandertal”.