Linguística

O que é linguística?

Linguística é a ciência que estuda a linguagem verbal humana. Como toda a ciência, ela baseia-se em observações conduzidas através de métodos, com fundamentação em uma teoria.

Portanto, a função de um linguista é estudar toda e qualquer manifestação linguística como um fato merecedor de descrição e explicação dentro de um quadro científico adequado.

Para um linguista é muito mais interessante uma passagem do tipo:

Cumé qui é?

a outra:

Como é que é?

pois as variações linguísticas e seus motivos socio-culturais são, cientificamente, muito mais relevantes do que a norma padrão da língua, isto é, o jeito “correto” de falar.

O linguista quer descobrir como a língua funciona, estudando várias dessas línguas, de forma empírica (através de dados baseados na experiência), dando preferência às variações populares faladas em diversas comunidades.

Os critérios de coleta, organização, seleção e análise dos dados linguísticos obedecem a uma teoria linguística expressamente formulada para esse fim.

Divisões da Linguística

1. Considerando o foco da análise:

  • Linguística Descritiva (ou sincrônica): Fala de uma língua, descrevendo-a simultaneamente no tempo, analisa as relações existentes entre os fatos linguísticos em um estado da língua, além de fornecer dados que confirmam ou não as hipóteses. Modernamente, ela cede lugar à Linguística Teórica, que constrói modelos teóricos, mais do que descreve;
  • Linguística História (ou diacrônica): Analisa as mudanças que a língua sofre através dos tempos, preocupando-se, principalmente, com as transformações ocorridas;
  • Linguística Teórica: Procura estudar questões sobre como as pessoas, usando suas linguagens, conseguem comunicar-se; quais propriedades todas as linguagens têm em comum; qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade linguística é adquirida pelas crianças;
  • Linguística Aplicada: Utiliza conhecimentos da linguística para solucionar problemas, geralmente referentes ao ensino de línguas, à tradução ou aos distúrbios de linguagem.
  • Linguística Geral: Engloba todas as áreas, sem um detalhamento profundo. Fornece modelos e conceitos que fundamentarão a análise das línguas.

2. Considerando o que constitui a língua:

  • Fonologia: Estuda os menores segmentos que formam a língua, isto é, os fonemas;
  • Morfologia: Estuda as classes de palavras, suas flexões, estrutura e formação;
  • Sintaxe: Estuda as funções das palavras nas frases;
  • Semântica: Estuda os sentidos das frases e das palavras que a integram;

3. Considerando suas conexões com outros domínios:

  • Psicolinguística: Estuda a relação entre a linguagem e a mente;
  • Sociolinguística: Estuda a relação entre a linguagem e a sociedade;
  • Etnolinguística: Estuda a relação entre a linguagem e a cultura (cultura não no sentido de erudição ou conhecimento livreiro, mas sim como as tradições de um povo, esta cultura que todos possuem.)

Livros de introdução ao estudo da Linguística

Existe uma infinidade de livros que podem guiar você através do maravilhoso mundo do estudo de línguas. Um que eu considero muito bom é Introdução à Linguística (Volumes 1 e 2), do professor José Luiz Fiorin, que segue desde uma explicação do que é a linguística, de como se processa a comunicação humana, até chegar a uma apresentação minuciosa de seus cindo principais objetos teóricos criados nos séculos XIX e XX (langue, competência, variação, mudança e uso).

Outro título importante é o clássico de Ferdinand de Saussure, Curso de Linguística Geral, que fundou as bases do estruturalismo e traz os pressupostos teórico-metodológicos dessa escola que acabou influenciando outras ciências sociais.

Como última indicação, não poderia deixar de faltar o grandioso Reflexões sobre a Linguagem, de Noam Chomsky, publicado em 1975, trazendo as bases da ideia de gramática gerativa e da posterior escola gerativista.

Fonte: www.lendo.org

 

LINGUÍSTICA E GRAMÁTICA

Embora a linguística seja uma ciência com mais de cento e cinquenta anos de idade, ela é ainda pouco conhecida, não só pelo público leigo, mas também por boa parte do meio acadêmico. Muitos confundem a linguística com a gramática, por acharem que ambas tratam do mesmo objeto: a língua. Outros, adeptos da gramática tradicional, muito mais antiga que a linguística, veem nesta última uma ameaça à “pureza da língua”, por ser, segundo eles, uma disciplina por demais permissiva e tolerante com os “erros gramaticais dos falantes incultos”. Isso tudo demonstra que ainda hoje a linguística vive cercada por uma aura de desconhecimento e preconceito, fruto, sem dúvida, da ignorância geral sobre o assunto. Por isso, é oportuno falarmos um pouco sobre linguística e sobre gramática.

A gramática, tal qual a conhecemos hoje, foi criada no século IV a.C. pelos sábios gregos de Alexandria, obrigados a trabalhar para o engrandecimento do império do general macedônio Alexandre, o Grande, ao qual a própria Grécia estava sujeita. Saudosos dos tempos em que Atenas era uma cidade livre e berço de grandes filósofos, poetas, escritores e artistas, os sábios de Alexandria formularam a hipótese segundo a qual as línguas, assim como os impérios, conhecem três fases em seu desenvolvimento: um período de formação, em que a língua, ainda pobre e rude, é falada por pastores e camponeses, quando surgem os primeiros autores; um período em que a língua se encontra em seu apogeu, revelando seus grandes autores, que, por isso mesmo, são chamados de clássicos; e um período de decadência, em que a língua começa a se degenerar, e a produção literária cai sensivelmente de qualidade. Em resumo, toda língua de cultura passaria por três estágios: arcaico, clássico e tardio. Não por acaso, o período clássico da língua coincidiria com a fase de apogeu político e econômico do Estado em que é falada. Essa concepção levou os sábios alexandrinos a elegerem o grego do século V a.C., auge do poderio político e econômico de Atenas, como o modelo de língua a ser seguido. Nessa perspectiva, a gramática foi definida como “a arte de escrever com correção e elegância” e tinha um caráter eminentemente normativo, isto é, era um conjunto de regras a ser seguidas por todos aqueles que pretendessem escrever bem. Essas regras eram estabelecidas tendo por critério o uso que os grandes autores — isto é, os “clássicos” — fizeram da língua. No entanto, para estabelecer essas regras, os gramáticos precisavam primeiro certificar-se de quais versões de um mesmo texto clássico iriam utilizar. Como as obras clássicas estavam afastadas no tempo às vezes vários séculos, era comum que houvesse diversas variantes de um mesmo texto, bem como muitas passagens de uma determinada obra haviam se tornado obscuras, devido à mudança da língua com o tempo. Para estabelecer a forma mais fidedigna e próxima ao original de uma obra antiga, bem como para esclarecer o significado de suas passagens mais obscuras, é que os sábios de Alexandria criaram também uma outra disciplina, chamada filologia. Só que, para estabelecer qual dentre as muitas versões de uma obra era a mais confiável, os filólogos se valiam das regras da gramática, já que, por definição, os grandes escritores escrevem bem e não cometem erros de gramática (!). Portanto, as regras da gramática eram estabelecidas com base nos dados fornecidos pela filologia, e a reconstituição das obras literárias feita pelos filólogos dependia das regras da gramática… Como se pode ver, a gramática normativa e a filologia estabeleciam entre si um círculo vicioso interminável.

Com o passar do tempo, a gramática fixou-se como a disciplina que determina quais formas da língua são corretas e quais não, sempre, é claro, do ponto de vista da linguagem tal qual é usada pelos falantes eruditos. Assim, na França do século XVII, a gramática assumiu o status de lei, e um famoso gramático da época chamado Vaugelas chegou a exercer uma verdadeira ditadura sobre os hábitos dos falantes. Por isso mesmo, a língua literária era muito diferente daquela que as pessoas falavam no seu dia-a-dia, e havia uma verdadeira obsessão pela imitação das formas e das construções latinas. O resultado disso é que a língua literária, regida pela gramática normativa, era sensivelmente mais complicada que a língua coloquial, e, na verdade, muitas simplificações gramaticais que caracterizam o francês atual são oriundas da fala popular.

Como o século XVII representou para muitos países europeus, inclusive para Portugal, o momento da consolidação definitiva da língua nacional, foi justamente nessa época que começaram a ser publicadas as primeiras gramáticas das línguas nacionais (até então somente o grego e o latim eram consideradas línguas dignas de terem suas regras codificadas e compiladas em livros). Se hoje a gramática da língua portuguesa recomenda ou até impõe certas construções (como fá-lo-ei ou dir-lho-ás, por exemplo) que o povo em geral absolutamente não usa, é em grande parte porque nossa gramática ainda se baseia no uso linguístico do século XVII. Por sua própria natureza, a gramática é uma disciplina normativa, isto é, que impõe regras e determina como se deve ou não falar ou escrever. Nesse sentido, ela não é uma ciência, pois não é sua função estudar e descrever a língua em si, tal qual ela é falada, mas sim estabelecer, segundo critérios às vezes bastante arbitrários, como os falantes cultos devem falar ou escrever.

Por outro lado, a linguística é uma ciência, surgida entre fins do século XVIII e princípios do XIX, cujo objeto de estudo é a linguagem verbal, isto é, a língua. Enquanto ciência, a linguística não se interessa pelo que a língua deve ser, mas sim pelo que ela efetivamente é; ela, portanto, não estabelece juízos de valor a respeito da língua, mas sim juízos de fato: sua postura é descritiva e não prescritiva. Devido ao seu caráter científico, a linguística não recomenda nem proíbe este ou aquele uso da língua. Dado um fenômeno qualquer pertencente à esfera da linguagem, cabe à linguística, num primeiro momento, descrever tal fenômeno, e, num segundo momento, tentar explicá-lo, isto é, pesquisar as causas desse fenômeno com base na observação, na experimentação e na aplicação do raciocínio lógico. Sua abordagem deve ser neutra, objetiva e imparcial, como convém a toda ciência que se preze (embora os espíritos mais esclarecidos saibam que neutralidade, objetividade e imparcialidade absolutas são metas impossíveis de ser atingidas, seja pela ciência ou por qualquer outra atividade humana, mas essa é uma questão extremamente complexa e vasta, que não discutirei aqui).

Por outro lado, sabemos que as sociedades ditas civilizadas são bastante complexas e heterogêneas, isto é, dividem-se em inúmeros grupos sociais, cada um com sua cultura, seu modo de vida e sua norma de linguagem próprios. Assim, para que haja intercomunicação entre esses grupos, é preciso que haja um padrão de linguagem comum a todos eles, padrão que chamamos de norma culta. Essa norma é a que se usa, por exemplo, nos meios de comunicação de massa (jornais, revistas, rádio, TV), e é por isso que todas as pessoas, em todas as regiões do país, pertencentes aos mais diversos grupos sociais, conseguem ler livros ou assistir televisão e entender o que estão lendo ou ouvindo. Sem a norma culta, não haveria intercomunicação e, consequentemente, relacionamento social entre os diversos grupos que compõem a sociedade, o que levaria à própria desintegração dessa sociedade. Portanto, para que seja possível a interação linguística entre esses grupos, é preciso que a norma culta seja uniforme, isto é, seja a mesma para todos os grupos. Para tanto, ela precisa ser rigorosamente controlada, regulamentada, normativizada. É justamente essa a tarefa da gramática: normativizar a língua, exercer esse controle que garante a uniformidade da norma culta. É nesse sentido que se pode dizer que a gramática, ao contrário da linguística, é uma disciplina prescritiva. Entretanto, não há necessariamente conflito entre a linguística e a gramática, há antes interação entre as duas, pois um fato linguístico de uso generalizado pelos falantes de uma língua, e que, como tal, é objeto de estudo da linguística, acaba mais cedo ou mais tarde tendo seu uso prescrito pela gramática; por outro lado, aquilo que a gramática impõe como de uso obrigatório passa a ser em geral aceito e utilizado pelos falantes, tornando-se, pois, objeto da descrição linguística. Assim, a linguística e a gramática são na verdade disciplinas distintas porém intimamente relacionadas, cada uma com seu papel plenamente definido, e nenhuma das duas interfere no campo de ação da outra. Não há, portanto, razão alguma para conflito, como pensam alguns.

Quanto à linguística, ela não é essa disciplina permissiva que “defende os erros gramaticais”, como diziam os gramáticos mais tradicionalistas. Nenhum linguista, em sã consciência, propugnaria o uso de palavras e expressões erradas — do ponto de vista da gramática normativa, bem entendido — na imprensa ou em textos formais em geral. Mas a linguística parte do princípio de que a norma culta, embora seja importantíssima, não é o único padrão linguístico existente, e na verdade a maior parte da população se comunica a maior parte do tempo em outras normas que não a norma culta. (Pense, por exemplo, que se você usar a norma culta, com todas as suas regras rígidas, para falar com o pipoqueiro ou com o varredor de ruas, eles provavelmente não o entenderão, ou, no mínimo, pensarão que você está querendo “botar banca” para cima deles.) Por isso, é preciso que exista uma ciência que estude a “língua real” e não apenas a “língua oficial”, caso contrário, estaríamos nos recusando a conhecer e a entender nossa própria realidade linguística e social. Além disso, o chamado “erro” gramatical é, na verdade, a prova da evolução da língua: foi graças aos “erros” gramaticais e de pronúncia cometidos pelo povo romano ao longo dos séculos que o latim se transformou no que hoje é o português, o espanhol, o francês, o italiano, etc. Assim, o estudo da linguagem popular nos ajuda a compreender a própria evolução das línguas com o tempo.

Fonte: www.aldobizzocchi.com.br

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Tribo Pirahã: a cultura que está alterando a teoria da gramática universal.

Posted by on mar 6, 2016 in Ateísmo, Brasil, Ciências Sociais, Gramática, Linguistica, Paleopaganismo, Pré-História, Slider, Videografia | Comentários desativados

Tribo Pirahã: a cultura que está alterando a teoria da gramática universal.

Documentário mostrando o linguista Daniel Everett e sua relação com a tribo Pirahã, o estudo da sua língua, que pode mudar a história da linguagem humana, além de sua profunda mudança de um fervoroso missionário a um cientista ateu. O nome do documentário é ”The Amazon Code” The Grammar of Happiness ( O código do Amazonas: a gramática da felicidade) O idioma pirahã, falado por cerca de 400 indígenas que vivem às margens do Rio Maici, no sul do Amazonas, talvez fosse apenas mais uma das dezenas de línguas...

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