1º observatório astronômico do Hemisfério Sul foi no Recife.

set 18, 2018 by

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Esquina da Rua do Imperador com 1º de Março abrigou o 1º Observatório Astronômico do Hemisfério Sul (Foto: Leonardo Vila Nova/PorAqui)

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Em uma das esquinas da Rua do Imperador com a 1º de Março, no bairro de Santo Antônio, um prédio cinza abriga uma representante financeira para empréstimos consignados . Pouca gente sabe, mas foi ali que se ergueu o 1º Observatório Astronômico do Hemisfério Sul e das Américas.

Um dos frutos da passagem de Maurício de Nassau, governador do Brasil Holandês, pela cidade, o observatório foi inaugurado em 1639 e coordenado pelo alemão George Marcgrave, cientista natural do século XVII.

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Placa indicativa do observatório se encontra no imóvel de número 61 da Rua do Imperador (Foto: Leonardo Vila Nova/PorAqui)

Sob encomenda de Nassau, Marcgrave veio ao Recife para realizar estudos nas áreas de Astronomia, Meteorologia, Botânica, Geografia, Zoologia, entre outras ciências. O observatório era uma das estruturas disponibilizadas para Marcgrave fazer seu trabalho.

O prédio cinza, de número 61, que hoje se encontra na esquina, não é o mesmo da época. O imóvel original – que era a antiga residência de Maurício de Nassau – ocupava boa parte do quarteirão, com a frente voltada para a Rua do Imperador, que não existia na época (ali já despontava o Rio Capibaribe) e os fundos davam para a Pracinha do Diário (que se chamava Terreiro dos Coqueiros).

Foi nesse observatório que Macrgrave pôde avistar as estrelas do Hemisfério Sul e fenômenos celestes como eclipses da Lua e do Sol, estudos, até então, inéditos no Brasil, e que vieram se dar apenas 30 anos depois de Galileu Galileu fazer sua primeira observação telescópica.

“Tudo isso representou um avanço extraordinário na História da Ciência, era o primeiro momento em que esse tipo de abordagem estava sendo feita no nosso país”, fala o historiador Daniel Breda sobre a importância do Observatório Astronômico no Recife.

No entanto, ele pondera sobre algum impacto local significativo. “Porém, se tratava mais de um avanço para o conhecimento holandês do que para o Recife ou o país em si”, diz. “O conhecimento que foi gerado aqui foi levado embora com os holandeses. O próprio Nassau já tinha levado todas as pesquisas de volta para a Holanda”.

“Tratava-se de uma estratégia de dominação, mandando cientistas virem pra cá para escreverem sobre plantas, questões astronômicas e meteorológicas, mas, tudo isso, para poder produzir melhor, entender melhor as possibilidades de exploração econômica na região”, explica ele.

Os registros e estudos astronômicos realizados por Marcgrave no observatório no Recife se encontram, atualmente, na Universidade de Leiden, na Holanda. “É uma herança que ficou na documentação e nos escritos que MarcGrave deixou. E nada mais”, diz Breda.

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Pintura de Zacharias Wagener mostra o antigo imóvel onde funcionou o observatório (Foto: Reprodução)

Destino

Não é sabido, ao certo, o destino da estrutura do observatório. Não há registros disso. Então, ficam as suposições. A mais aceita é a de que em 1642, ao se mudar para o Palácio de Friburgo, que ficava na Praça da República, Nassau teria levado parte da estrutura do observatório para lá.

Mas também acredita-se nas seguintes possibilidades: o próprio MarcGrave teria levado a estrutura consigo, ao partir para a África, para outros trabalhos; ou, ainda, que a estrutura havia ficado na antiga edificação e teria sido destruída pelos portugueses, quando da retomada de Pernambuco do domínio holandês.

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Em pintura de Franz Post, ao fundo, o Palácio de Friburgo (Foto: Reprodução)