1º observatório astronômico do Hemisfério Sul foi no Recife.
Escrito por Leonardo Vila Nova no https://poraqui.com/
Em uma das esquinas da Rua do Imperador com a 1º de Março, no bairro de Santo Antônio, um prédio cinza abriga uma representante financeira para empréstimos consignados . Pouca gente sabe, mas foi ali que se ergueu o 1º Observatório Astronômico do Hemisfério Sul e das Américas.
Um dos frutos da passagem de Maurício de Nassau, governador do Brasil Holandês, pela cidade, o observatório foi inaugurado em 1639 e coordenado pelo alemão George Marcgrave, cientista natural do século XVII.
Sob encomenda de Nassau, Marcgrave veio ao Recife para realizar estudos nas áreas de Astronomia, Meteorologia, Botânica, Geografia, Zoologia, entre outras ciências. O observatório era uma das estruturas disponibilizadas para Marcgrave fazer seu trabalho.
O prédio cinza, de número 61, que hoje se encontra na esquina, não é o mesmo da época. O imóvel original – que era a antiga residência de Maurício de Nassau – ocupava boa parte do quarteirão, com a frente voltada para a Rua do Imperador, que não existia na época (ali já despontava o Rio Capibaribe) e os fundos davam para a Pracinha do Diário (que se chamava Terreiro dos Coqueiros).
Foi nesse observatório que Macrgrave pôde avistar as estrelas do Hemisfério Sul e fenômenos celestes como eclipses da Lua e do Sol, estudos, até então, inéditos no Brasil, e que vieram se dar apenas 30 anos depois de Galileu Galileu fazer sua primeira observação telescópica.
“Tudo isso representou um avanço extraordinário na História da Ciência, era o primeiro momento em que esse tipo de abordagem estava sendo feita no nosso país”, fala o historiador Daniel Breda sobre a importância do Observatório Astronômico no Recife.
No entanto, ele pondera sobre algum impacto local significativo. “Porém, se tratava mais de um avanço para o conhecimento holandês do que para o Recife ou o país em si”, diz. “O conhecimento que foi gerado aqui foi levado embora com os holandeses. O próprio Nassau já tinha levado todas as pesquisas de volta para a Holanda”.
“Tratava-se de uma estratégia de dominação, mandando cientistas virem pra cá para escreverem sobre plantas, questões astronômicas e meteorológicas, mas, tudo isso, para poder produzir melhor, entender melhor as possibilidades de exploração econômica na região”, explica ele.
Os registros e estudos astronômicos realizados por Marcgrave no observatório no Recife se encontram, atualmente, na Universidade de Leiden, na Holanda. “É uma herança que ficou na documentação e nos escritos que MarcGrave deixou. E nada mais”, diz Breda.
Destino
Não é sabido, ao certo, o destino da estrutura do observatório. Não há registros disso. Então, ficam as suposições. A mais aceita é a de que em 1642, ao se mudar para o Palácio de Friburgo, que ficava na Praça da República, Nassau teria levado parte da estrutura do observatório para lá.
Mas também acredita-se nas seguintes possibilidades: o próprio MarcGrave teria levado a estrutura consigo, ao partir para a África, para outros trabalhos; ou, ainda, que a estrutura havia ficado na antiga edificação e teria sido destruída pelos portugueses, quando da retomada de Pernambuco do domínio holandês.