Arqueólogos brasileiros vão à Antártida. Expedição liderada por pesquisadores nacionais estuda pela primeira vez os vestígios da presença humana no continente gelado.

jun 23, 2010 by

                                        Gravura de 1838 mostra embarcações aportando na Antártida

Pode soar contraditório falar de pesquisa arqueológica e antropológica (ou seja, voltadas ao estudo dos povos), na Antártida, o continente mais frio e seco do planeta, onde nunca existiu população permanente. Entretanto, um grupo liderado por pesquisadores brasileiros concluiu uma missão de dois meses no continente gelado, onde foram justamente para efetuar escavações em sítios arqueológicos e estudar a ocupação humana no local. Foi a primeira vez que pesquisadores de ciências humanas fazem esse tipo de missão naquela região.

Coordenado pelo professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Andrés Zarankin, o grupo está estudando os resquícios deixados por antigos visitantes na região. O material coletado vai ajudar a entender as estratégias humanas de ocupação no local, principalmente entre o final do século XVIII e começo do XIX, quando a humanidade começou a explorar essa parte do planeta. O grupo de pesquisa, único do tipo no mundo, pretende analisar a vida não dos grandes exploradores históricos que chegaram até ali, mas o cotidiano dos caçadores de mamíferos marinhos que se estabeleciam por lá: como viviam, como se organizavam hierarquicamente, o que comiam, o que vestiam etc.

Os locais explorados nessa primeira viagem – ainda haverá mais duas – foram os sítios arqueológicos de Sealer 3 e Sealer 4, abrigos de pedra construídos por caçadores de focas e baleias no século XIX em uma ilha chamada Livingstone, no arquipélago Shetlands do Sul. Entre os objetos coletados e trazidos para o Brasil estão ossos, tecidos, metais, vidros, cerâmicas que constituíam os mais diversos tipos de objetos, de cachimbos a restos de alimentos consumidos.

Se por um lado as temperaturas geladas exigiram um grande esforço de adaptação para os pesquisadores, por outro eles não têm do que reclamar do gelo: ele ajudou na preservação dos materiais arqueológicos. O desafio agora é manter essas amostras nas mesmas condições, agora conservadas dentro do campus da universidade, em Belo Horizonte.

A expedição conta também com a participação do Chile e Argentina e tem apoio do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Além de Zarankin , fazem parte da equipe o professor Carlos Magno Guimarães e os pesquisadores Fernando Soltys e Sarah Hissa (UFMG), a doutoranda Ximena Villagran (USP) e o assistente Luis Guilherme Rezende (doutorando em antropologia pela UnB).